Quando o assunto é arte e cultura há uma frase que acabo sempre por dizer:
“Não tem 200 anos, não presta!”
Claro que não acredito realmente nesta frase, apenas é dita em género de provocação. Mas serve para ditar o mote.
No outro dia, fui assistir aquilo que se pretendia ser uma pequena tertúlia subordinada ao tema da existência, ou não, da cultura em Portugal, no geral, e na cidade onde habito, em concreto. Ora eu pensava que ia ser uma coisa gira, mas não.
A coisa começa com o facto de toda a gente, inclusive pessoas que integram associações culturais, dizerem que, realmente, não há cultura nenhuma. Não gosto de consensos.
Depois, e ainda que a coisa tenha resvalado para considerações políticas, sendo que até aí um pessoa vai preparada, houve uma mente iluminada que decidiu justificar a existência, ou da falta dela, aos romanos. Sim, isso mesmo. Tudo se baseava na evolução histórica que vai conduzir a uma aculturalidade (se é que podemos dizer assim).
E é aqui que a coisa se torna ainda mais surreal, pelo menos aos meus humildes olhos e compreensão. Esta mente brilhante e iluminada diz que:
- A burguesia é o ímpeto de cultura, não teço quaisquer considerações positivas ou negativas. Mas o que acho extraordinário, é que esta mesma mente iluminada despreza a burguesia, acredita que esta classe é o mal de tudo;
- Considera o marxismo como a única corrente que conduzirá à felicidade e à melhor e maior “humanização”, e só assim a cultura terá o seu apogeu;
- Dá exemplo de Óbidos como um expoente cultural actual, uma vez que tem um pólo cultural em franca expansão e “cria 1000 empregos” (SIC).
E tudo para terminar com a defesa de uma elite cultural e com um “temos que ensinar o povo” (SIC).
Calma, muita calma.
Estamos a falar de alguém que critica uma classe, a burguesia, como causadora de todos os infortúnios do mundo, mas defende uma outra classe, ainda para mais uma elite. E cultural. Juntarmos as duas nem sei onde é que isto acabava. E pelos vistos seria esta tão desejada elite que iria ensinar o povo.
Considerações à parte, lembro-me de umas quantas questões, a saber:
- Quem é que disse que o povo quer ser ensinado?
- Que iria ser ensinado?
- Quais os critérios para se pertencer ao povo ou a essa elite?
São apenas algumas de que me recordo. É que, e isto é apenas única e exclusivamente a minha opinião, parece que quando essa gente, defensores de elites culturais e de uma cultura natural, metafísica, se esquece de uma coisa. Ou pelo menos penso que tendem a considerar apenas como cultura a música erudita e peças de teatro ditas intelectuais – é vê-los com exemplos de festivais e concertos de jazz, de peças de teatro de fulano A, B ou C e por aí fora -, mas esquecem-se de uma catrefada de outras coisa.
Mais, esquecem-se que a cultura tem que gerar dinheiro – sim, eu sei, ideia quase blasfémica – mas é verdade. O artista quer reconhecimento, quer o aplauso, o palco. Quer dedicar-se à sua arte, contribuir para a cultura. E isso é aenas possível se conseguir sobreviver da sua arte. Se alguém se interessar pela sua arte e estiver disposto a dar dinheiro para desfrutar da sua criação. Seja ela qual for.
E é aqui que entra mais uma outra crítica. Cultura não é uma meia dúzia de “artes” – à falta de melhor descrição – é antes um refinamento de gostos e de juízos artísticos; é o ponto máximo na purificação e no aprimoramento intelectual, (in Oxford English Dictionary). È um conjunto de vários saberes, interesses, com peso histórico e tradição, é a representação física do imaginação e do pensamento humano. É a sua materialização. Como pode ser reduzido a uma ou outra arte? Ainda que de extrema quailidade?
Não. Não. E não.
Cultura, e os gostos serão vários. Não se “ensina ao povo”, nasce do povo, como conjunto de uma população, enriquece-o e este promove-a. Cria riqueza, intelectual, artística e, porque não, monetária. Porque alguém imagina um Da Vinci trabalhar, sei lá, num estábulo, por exemplo, e ao fim do dia ir para a sua oficina? E quem diz Da Vinci diz Einstein, diz o John Lenon, o Elvis, Andy Warhol, Lou Reed, Goya, e por aí for a? Tem de ser a profissão dos artistas, não o seu passatempo.
Cultura abarca uma imesidão de géneros criativos e de génio. Cultura abarca, a meu ver, não se restringindo a:
- Concertos de jazz;
- Filmes;
- Videoclips;
- Concertos Rock
- Concertos de música vária, e porque não Pimba, há quem goste e não são menos pessoas por isso
- As feiras;
- Grafitis, o género de desenho e pintura, porque em propriedade privada, desculpem, mas é vandalismo;
- Os santos populares;
- Teatro
- Museos;
- Progrmas de televisão
- Jornais
- Revistas.
E por aí for a.
Nada disto demonstra os meus gostos, apenas procurar demonstrar o meu ponto de vista sobre o assunto.
P.S. O post enorme não se repetirá tão cedo.