I wish I were a Warhol silk screen hanging on the wall. Or little Joe or maybe Lou. I'd love to be them all. All New York's broken hearts and secrets would be mine. I'd put you on a movie reel, and that would be just fine. Ian Curtis
23.11.08

Trabalho de equipa, hoje não se ouve outra coisa. Todos dizem que é muito importante. Trabalho de equipa, não há grupo que não viva sem o dito.

Mas porquê essa tanta preocupação com o deixar que outros façam parte do trabalho, quando não é mesmo a totalidade do trabalho? Não sei. Transcende-me.

Tenho para mim, que os grandes defensores do trabalho de equipa são as pessoas que no fundo gostavam de dizer: sim, sou incapaz de fazer de fazer o trabalho sozinho, nada como ter uma equipa.

link do post Eu e o meu Ego, às 15:07  ver comentários (1) comentar

21.11.08
Porque o Natal está aí

link do post Eu e o meu Ego, às 17:27  comentar

Conheci pela segunda vez uma pessoa que se diz anarco-sindicalista. A primeira pessoa foi o meu avô. Foi há anos a nossa primeira conversa sobre o tema. Adorava perder-me nos seus livros. Antigos. Com cheiro de várias leituras. Os seus livros.

As discussões eram habituais. Chamava-me beato, apenas para me irritar. Qual miúdo pequeno. Mas eu Adorava as discussões. Ajudaram a construir a minha identidade política. Tinha de me esmerar, quando petiz, para contrariar os seus argumentos.

O meu avô. Procurou ensinar-me o Esperanto. Revelei-me um péssimo aluno. Porque havia eu de aprender uma língua morta. Uma língua que existiu somente na cabeça de uns quantos.

O meu avô. As histórias de quando procurou fugir clandestino num barco rumo a França. Ganhei respeito por causas, que não as minhas, defendidas com convicção.

A prova de que pessoas com ideais e posições diferentes se podem respeitar e admirar. O meu avô.
link do post Eu e o meu Ego, às 15:18  comentar

20.11.08

- Não, não pode ser. Arte, não é uma simples “coisa”. Não pode. Não consigo conceber as coisas dessa forma.

- Claro que pode, arte é o sentido, orientação que foi dado pelo artista, pelo criador, a mente por detrás da obra.

- Não. Não e não. Arte é sentido estético. É orientação para a beleza. O artista é aquele que é refém da beleza. Escravo da mesma. Procura a perfeição para além do óbvio…

- Mas isso acaba por ser a mesma coisa que dizer que o artista acha aquela peça bonita.

- Não, porque primeiro reconduzir uma peça a “bonita”, é redutor. O Artista quer o impacto. Quer o choque. Quer reacção. Reacção provocada pela estética do que fez. Por vezes procurar uma estética que não está lá. Criar uma nova estética.

- Mas como distinguir, a boa estética da má estética?

- Não se distingue. És tu que distingues. És tu o juiz do que consideras belo. Do que te impele para a reacção. És tu o supremo juiz do que é criado.

- Fraquinho, muito fraquinho.

- Talvez, mas no que concerne à beleza não há consenso.

- Ainda assim.
link do post Eu e o meu Ego, às 14:17  comentar

Tenho critérios para tudo. Raios, isto lixa-me a vida. Sou refém, escravo mesmo, de mim próprio. Sou tão aborrecido no fundo. Aborreço-me a mim mesmo com estas tretas. Critérios para tudo. Enfim.

Um deles é quando cortar o cabelo. Sei no exacto momento em que o tenho de fazer. Como? Critérios, lá está. E este é, no fundo, tão exacto quanto ridículo. No momento em que pareço um microfone, está na altura.

Porquê isto hoje? Vi a minha sombra.

link do post Eu e o meu Ego, às 14:01  ver comentários (1) comentar

16.11.08

Como fui ingénuo. Como poderiam ter as coisas corrido de outra forma. Mas lá está, esta análise apenas é possível com a devida distância do tempo.

Passado aquela fase em que todos os miúdos – pelo menos aqueles que calcorreavam a rua comigo – querem ser cowboys, bombeiros ou astronautas, eu achei que queria ser outra coisa.

- Pai, mãe, já sei o que quero ser quando for grande. Quero ser cantor!

- Meu filho, não tens jeito nenhum para cantar, além disso em Portugal não dá para viver.

Não desanimei.

- Pai, mãe, já sei o que quero ser quando for grande. Quero ser actor!

- Meu filho, em Portugal vais para o desemprego. Para não falar na tua tremenda falta de jeito.

Não há duas sem três.

- Pai, mãe já sei o que quero ser quando for grande. Quero ser advogado!

- Meu filho, que bom. Vais ser Dr. E vais-te sair lindamente.

Hoje, acho que preferia ter levado um par de estalos. Ou então não. Simplesmente que continuo a não ter jeito para aquilo que escolho. Já ficava contente.


link do post Eu e o meu Ego, às 21:00  ver comentários (2) comentar

13.11.08

Fui ver o filme no fim-de-semana passado. Gostei. Certo que a história está um pouco mais fraquinha que no primeiro, mas vá, a coisa perdoa-se. É o Bond. Nunca se espera histórias daquelas. Mas o homem, falo da personagem, está convincente. Ouso dizer: o melhor de todos. Não digo dizer melhor que o Sean, porque esse é já mítico. Mas depois daquele, o melhor. Blasfémia? Não.

O homem convence. É duro. Frio. Afinal, é um agente secreto. Afinal salva o mundo. Não é uma menina que ali anda a pedir “drinks”, a fazer olhinhos a tudo o que mexe. Tenho para mim que, e tirando o Sean, todos os Bonds tentavam conquistar até os seus oponentes. Mais, todos os outros pareciam-me incapazes de dar cabo de um bêbado a caminho do coma alcoólico. Este Bond não. Arrefinfa-lhes que nem pêra doce.

Dizem coisas idiotas como: mas ele não diz a frase “Bond, James Bond”. Mas porque raio havia de dizer? Não é um agente secreto? Imaginam a situação, somos todos agentes secretos, estamos em missão e andamos para ai a dizer o nosso nome? Olá, muito boa tarde sou o Manuel, muito prazer. Claro que não. Sim, eu sei. A Frase está nos anais da história pop do cinema. Mas convenhamos, a coisa passa-se bem sem ela.

Insistem com coisas ainda mais idiotas: mas o filme agora é basicamente um filme de acção. Ok, pois é. Mas onde andaram nestes anos? Os Filmes do Bond sempre foram de acção. Um pouco sui generis, mas de acção. Deixem-se de coisas, vá.

E voltam à carga: mas ele não pede a sua bebida. Coitado. Então o raio do homem tem sempre de beber a mesma coisa? Deixem-no desenjoar.

E quanto as chamadas bond girls? Bem, não é o melhor filme sob este prisma. A que faz pandilha com o senhor não larga faísca. Lamento a todos os apreciadores da senhora. A que, por outro lado, se enrola com o Bond, sim. Aquele ar meio coquete, com a sua gabardina – a primeira cena em que aparece – a lembrar aqueles anos 60, tem o seu quê. Lamentavelmente morre pouco tempo depois. E as cenas contam-se em menos dos dedos de uma mão.

Mas moral da história: o filme é bom. Uma fita de entretimento. Pura e simples, com uma personagem credível como o caneco. Deixou um pouco de lado, nisto admito, a sua faceta gentleman para dar largas a uma mais coky. Uma presunção que lhe marca um novo carisma.

Espero o novo.
link do post Eu e o meu Ego, às 16:01  ver comentários (2) comentar

12.11.08
O texto que segue em baixo não é meu. É de um amigo. Concordo e subscrevo por baixo.

É tempo de acabar com as ilusões

Leio no jornal que a “associação cultural e artística Elucid’Arte” se encontra a promover um concurso de fotografia sob o tema “Avenida Luísa Todi – Patrimónios Material e Imaterial”, com o apoio da Setúbal Polis e da Câmara Municipal de Setúbal.

Fora o caso, já de si complicado, de se perceber o que se poderá considerar de património imaterial, e de que modo este se habilitará a ser fotografado, uma pergunta, dada a notícia, surgiu naturalmente na mente da senhora que, com simpatia, me serve o café pela hora de almoço: o que será suposto os candidatos do concurso fotografarem? Os buracos das obras ou os parques de estacionamento da zona dos bares? A pergunta é pertinente. E é pertinente porque, na sua “multiplicidade e transversalidade”, como dizem os senhores da Elucid’Arte, na Avenida Luísa Todi, pouco mais que isso resta para ver. E, por consequência, fotografar. O património a que se referem, meus amigos, já foi vandalizado sob a batuta do Programa Polis, num acto de pura intenção criminosa. E igualmente com o apoio da Câmara Municipal. A proposta desta “associação cultural e artística” não podia ser mais ridícula.

Mas, por falar em coisas ridículas, tomei também conhecimento que a Associação dos Comerciantes foi recebida, há alguns dias, no gabinete da Dra. Dores Meira. Finalidade? Reivindicar o fim das obras Polis na Avenida e perguntar que é feito dos locais de estacionamento da mesma. Porque, a dita Associação, deu-se agora conta que os lugares de estacionamento na zona mais próxima à baixa desapareceram, para nunca mais serem vistos. Caso que será problemático para a sobrevivência do próprio comércio. Estas conclusões sábias são, no entanto, pouco inovadoras. Era conhecido há meses que o estacionamento da zona iria desaparecer. Como será possível que estes senhores não se tenham apercebido antes do facto?

É necessário compreender uma coisa: a baixa setubalense está morta. Falta apenas declarar oficialmente o óbito e proceder ao digno velório da coisa. Óbvio que a Associação de comerciantes persiste em ignorar o facto, preferindo imaginar, num misto de pensamento feliz e de simples ilusão, que um vasto, mas simplório, conjunto de luzes natalícias servirá para ressuscitar o bicho (outra das reivindicações da Associação à Câmara Municipal). Não chega. Nem, tão pouco, uma dúzia de lugares de estacionamento chegará. Tais receitas poderão servir para manter a baixa no estado comatoso actual, mas devolver-lhe a saúde perdida, não. Como chegámos aqui?

Já o disse várias vezes. Setúbal, urbanisticamente, é montada em cima do joelho por criaturas analfabetas no seu ofício. E este programa Polis é apenas a consequência dramática da aplicação em grande escala (porque existe, ou existia, muito dinheiro para esbanjar) deste nível de actuação.

Estranhamente, sobre este assunto, o vereador Paulo Calado do PSD, num estilo muito pouco habitual, disse uma coisa que vale a pena reter: os comerciantes acordaram tarde para o problema. Verdade. A maioria, sim. E a Associação dos Comerciantes, parece, ainda nem sequer acordou para o que realmente se está a passar. Mas uma pequena minoria de comerciantes desde o início que entendeu a complexidade da tragédia, e cedo começou a exigir responsabilidades. O executivo camarário respondeu a essas vozes, como tem por hábito o fazer: fechando-se numa obstinação acéfala, ora ignorando, ora intimidando, quem não se deixa deslumbrar por pechisbeques e promessas baratas. Porque, se algum comerciante se queixa, é intriguista; se um qualquer cidadão demonstra desagrado, é porque não percebe a grandeza do que está a ser feito; se um humilde cronista bate as teclas em profundo e irremediável desacordo, é ignorante.

Para a Avenida Luísa Todi já é tarde. A completa destruição do espaço em pouco tempo estará completa. Agora resta apenas tirar as devidas lições do sucedido. É tempo de acabar com as ilusões.


Tiago Apolinário Baltazar

Jornal de Setúbal, 10/11/2008
link do post Eu e o meu Ego, às 16:42  comentar

10.11.08
Sempre me intrigou. A sério. Mas antes: acredito piamente que sempre que alguém escreve algum livro está lá qualquer coisa do autor. Pode estar muito escondidinho. Mas está.

Mas o que sempre me intrigou foram os temas. Como é que um autor escolhe os temas, o mote dos seus livros. Todos os autores têm uma linha, um padrão. Como é que é isso. Nasce simplesmente à primeira palavra. Uns escolheram a dor. Outro as relações. E ainda há uns outros que escolheram a vida. Simples, desinteressante, corriqueira, banal. A vida simplesmente.

E como escrevem. Será que cada livro tem a sua banda sonora? Qual o filme que lhes passa na cabeça à medida que disparam cada palavra, cimentam cada linha, elevam cada parágrafo? Imagino que posso ser um espectador desse filme. As cenas, duras e cruas. Tal como imaginadas pelo seu autor. Adensadas pela banda sonora que idealizaram.
link do post Eu e o meu Ego, às 16:16  comentar


Lentamente. Muito devagarinho. Foi assim que a coisa começou. Hoje é à descarada. Sem vergonha mesmo. Nós, homens, fomos afastados. Atirados para o lado. Elas ganharam. Venceram as mulheres.

Onde isso é visível? Nas lojas. Há já algumas que têm sofás. Achas que são para quê? Para elas se sentarem enquanto recuperam o fôlego? Não. Não se iludam. É para nós homens. Para esperarmos com os sacos de anteriores compras ao lado. Quando não há sofás é ver os homens à porta das lojas esperando pacientemente – ou impacientemente apesar de apenas alguns o admitirem – pelas suas respectivas. Dantes podiam fumar. Agora nem isso. Olham-se com ares cúmplices.

Mas isso bastou? Claro que não. Para a vitória ser mais completa tiveram que nos atirar para um canto. Literalmente. Quantas e quantas lojas, que têm secção de mulher e homem, não atribuem à colecção de homem um mísero canto. Ou uma parede - quando não é metade de uma. Se for um espaço aparte tem a dimensão dos provadores das mulheres. Estes levam mais mulheres que os homens nas suas secções. Onde se penduram meia dúzia de calças, de camisas e camisolas. Mas não acham que temos direitos? Não temos direito a uma camisinha branca, preta amarela, que raio seja? Até cor-de-rosa. Há uns que gostam.

A solução acaba por ser as lojas destinadas ao público-alvo denominado por “Cristiano Ronaldos”. Mas isso, meus amigos, é outra história.
link do post Eu e o meu Ego, às 15:24  ver comentários (1) comentar

9.11.08


Numa destas tardes, de café pós-laboral, a conversa corria animada. Os temas vários e amplos. Até chegarmos à afirmação que se segue:

- Gostar de alguém é fazer uma cassete com as nossas músicas e ouvi-la até á exaustão. Das músicas e da cassete. Que se estragou com o uso.
link do post Eu e o meu Ego, às 11:46  comentar

8.11.08

Amo o Porto. Faz agora um ano que fui, pela última vez, ao Porto. Recordo passar pela Ponte da Arrábida e a névoa nostálgica do Porto abraçar-me, esmagar-me. O meu amor continuava vivo.

O porto é mágico. Não o conheço como o queria conhecer. Ainda bem. Tenho a terrível tendência de me desiludir com o que conheço bem. Não é vício. É feitio. Adoro tomar o pequeno-almoço na ribeira. Adoro terminar a tarde a beber um copo na ribeira de Gaia – não é Porto mas este pedaço para mim estende-se. O sol tem um brilho diferente. Mas também é soturno. Quente.

O Palácio de cristal e o seu magnífico jardim com a vista privilegiada governam imponentes o rio. Serralves parece um local que sobreviveu ao tempo. Dos anos de charme da cidade, foi banhada em modernismo. O seu jardim é o seu jardim, à falta de mais palavras. A Rua de Santa Catarina. A Foz lembra um pequeno pedaço do tempo perdido, de extensa influência dos Hamptons americanos dos anos 60. Magia na forma de cidade.

Soube envelhecer. Criar história e estórias. Desenvolveu a sua áurea e aperfeiçoou os seus encantos. Fez milhares de amantes. Com todos desenvolveu a sua ligação. Eu sou mais um. Rendido aos seus perfumes inebriantes. Mais um, apenas. São tantos. Faz agora um ano que lá fui, pela última vez. Eu espero. Até à próxima.

link do post Eu e o meu Ego, às 00:48  comentar

7.11.08
Everyday is like Sunday. Canta Morrisey. Não sei, mas detestava que assim fosse. Acho que há uma raiva surda que desperta sempre que se acorda e, olha é domingo.

Não vejo utilidade no domingo. É um dia morto. Foi brutalmente assassinado e nunca ninguém disse isso ao Sábado. Acho que é tempo de lhe contar e ele avançar com a sua vida. Arranjar uma nova companhia de fim-de-semana. Ninguém o vai levar a mal.
link do post Eu e o meu Ego, às 13:12  comentar


Ginásios são uma experiência sociológica. Ou surreal, nalguns casos. Ou, ainda, extremamente engraçada. Por vezes, já nem sei com qual função lá vou. Talvez para rir. Talvez para a função primária que me levou a inscrever. Não sei. Mas no outro dia ri-me. E com gosto. E sozinho.

Estava eu entretido com os afazeres – leia-se os exercícios – quando entra uma personagem. Não uma qualquer. De personagens penso que todos sabem que são aos magotes nos ginásios. Acho mesmo que são fabricados às paletes e distribuídos depois. São já quase um acessório fundamental em qualquer ginásio que se preze. Atestam a qualidade do mesmo. Mas retomando. A personagem era A personagem. A melhor que já vi – neste ambiente, claro.

Nos seus 50 anos, com uma bela barriga, com uma camisola a que arrancou as mangas, bigode farfalhudo, cabelos encaracolados, meias – brancas – por cima das calças e fita na cabeça. O andar era gingão. Parecia que andava de pernas abertas. Talvez alguma doença. E peito inchado. Entra com um sorriso nos lábios e pelo caminho, até à máquina, decide meter-se com todas as dignas representantes do sexo feminino. Velhas, novas, ainda menores – acho – nada ficava sem um sorriso, um galanteio, uma palavra de conforto. Já na sua máquina, uma bicicleta estática, era vê-lo a distribuir graçolas.

Juro. Tentei a sério. Até porque estava sozinho apenas acompanhado pelo Ipod. Mas foi mais forte. Ao primeiro sorriso ainda tentei disfarçar. Mas a gargalhada arrastou-se cá para fora e as outras seguiram-na. De repente eu próprio também já era uma personagem. Ria-me sozinho no meio do ginásio. Espero que pelo menos algumas almas tenham pensado que me ria de algum podcast que estivesse a ouvir.

Eu sei. Não pensaram. Apenas gosto de pensar que sim.
link do post Eu e o meu Ego, às 13:00  comentar

6.11.08
- Onde está o documento X?

- Não sei, experimenta na pasta Y.

- Sim, na pasta Y.

- Deram outro nome?

- Acho que não.

- Pois, acho que não.

- Encontrei.

- Ok.

- OK.

Se alguém perdeu um papagaio favor contactar. Sei de um com forma humana.
link do post Eu e o meu Ego, às 23:19  comentar

Tive insónias a noite passada. Revolvi na cama infinitas vezes. Não foi nada. É mentira. No entanto, acho que há algo de infinitamente romântico nas insónias. Já as tive várias vezes. Nessas alturas não as acho nada que não sejam odiáveis. Abomino-as mesmo.

Tive insónias a noite passada. Não tive. É mentira. Mas foi como se tivesse. Acordei cansado, esbaforido. Era tempo de me entregar a alguns prazeres tão mundanos que são aborrecidos e sem graça de partilhar. É certo que chovia, não interessa. Não é por isso que não saia de casa.

Apertei a gola do casado e ajeitei o cachecol que me envolve até entrar no café. Não um simples café, mas O café. O senhor do balcão acenou-me. Um gesto cúmplice de quem já tem mesa. Perto da janela. Estrategicamente posicionada. Aquela hora da manhã o chá quente e Joy Division ecoava-me nos ouvidos pelo Ipod, deixei-me ficar. Ao meu lado repousava o livro que trouxe. Ali ficou. Limitei-me a apreciar aquele momento.

link do post Eu e o meu Ego, às 22:32  comentar

4.11.08

No fundo, é uma coisa lixada. Isto dos sapatos. Gostava de conseguir estruturar melhor esta coisa dos sapatos. Como algumas mulheres que conheço. Mas não. Não reúno essa habilidade.

Comprar sapatos é uma arte. Aposto. Sapatos e seus derivados, claro. Saber que sapatos escolher. Cada vez que pego num par morro mais um pouco. Cada vez que experimento mais uns e não gosto, sou fuzilado brutalmente pelo olhar das empregadas. Olham para mim como quem diz que, no fundo, não sei o que quero. Mais grave, não sei. Têm razão.

A contagem vai em 1500 lojas, 3000 pares de sapatos, e seus derivados, e nada foi adquirido. Começo a questionar a minha sanidade. Começo a questionar porque insisto. Bem, isto no fundo é fácil, preciso de algo que me evite criar chagas na sola dos pés do alcatrão, calçada ou simples cascalho que habitam as nossas ruas.

Não interessa os critérios. Sim, porque utilizo critérios para saber que tipo de sapatos quero. Não interessa. Modifique os critérios, ou não os tenha de todo, e a demanda será ridiculamente infrutífera na mesma. E esta, não aparente ter fim próximo.


link do post Eu e o meu Ego, às 22:18  comentar

3.11.08

O amor é fodido. Escreveu Miguel Esteves Cardoso. Mas não. Fodido é não amar. Claro que se sofre quando se ama. Vive-se, por vezes, com a alma na boca, como um vómito que insiste em azedar-nos a boca. Mas não. Realmente fodido é não amarmos.


Claro que, quando amamos, há uma tranferência de preocupação para outra pessoa e isso angustia-nos. Como bichos egoístas que somos estamos habituados a preocuparmo-nos apenas connosco. Dá-nos suores frios umas vezes e risos descontrolados noutras. Mas não. Realmente fodido é não amarmos.


E há que esclarecer desde logo: amar não é estar apaixonado. Amor não é paixão. Por muito que as coisas possam estar ligadas, não são a mesma coisa.

Paixão mata-nos por dentro, consome-nos. Embrutece-nos. Somos uns tontos, uns fantoches da paixão que vive em nós. Alias, é ela que vive, porque nós morremos às suas mãos cadavéricas. É uma violência.

O amor não. É a calma depois da tempestade. É a onda leve, certa e perfeita que dá à costa. É a imensidão de nós próprios revistos no outro. É racional. Por mais que custe aos puristas da coisa, aos poetas, aos loucos e aos imbecis, é racional. É incompreensível porquê aquele outro. Mas percebemos que é amor e aproveitamos ao máximo o que isso nos dá, oferece e nos gratifica. Sem nada pedir em troca. Sem exigir a nossa vida, os nossos dias.



Por isso, fodido é não amar. Quem não ama não sente. E quem não sente não vive. Já a paixão é morte. A nossa e a de quem nos rodeia. É a obsessão. E esta é intransigente. Rói-nos a vida ao bater de cada dia, rindo-se descaradamente da nossa cara.

link do post Eu e o meu Ego, às 12:05  ver comentários (1) comentar

2.11.08

Um destes dias não estava para sair do escritório para almoçar. Declinei, o mais gentilmente que consegui, todos os convites para almoçar. Tinha o meu livro para ler e, ainda, alguns papéis para despachar. Fui, portanto, o último resistente a afastar-me do computador onde trabalhava.

Antes de almoçar fui ao W.C. e, quando levanto a tampa da sanita algo flutua por aquelas águas. Pois é, e na impossibilidade de dizer isto de outra forma cá vai, um senhor cagalhão olhava para mim.

Nojices à parte, desmancho-me a rir. Ainda não tinha ido à casa de banho nesse dia, mas de certeza que alguém tinha ido. Já me encontrava sozinho no escritório e pensava quem teria sido o obreiro da obra, passe a redundância, que ali estava. Ria-me e imaginava a cara de quem quer que fosse, quando chegasse do almoço e tivesse de ir à casa de banho.

Sucede que de repente se fez luz. Quem quer que tinha sido, a primeira pessoa a ir ao W.C. ou até mesmo a última, não se acusou nem ninguém foi acusado. Logo, quando alguém chegasse ao escritório, e tendo sido eu a única alma que por lá ficou, poderia dizer que fui eu. O meu gozo rapidamente se transformou em pânico. Teria de afogar a coisa.

Repetidamente puxei o autoclismo e nada. Desesperava até que, não faço ideia porquê, descobri um balde no escritório. Despejei violentamente e rezei. E a morte atingiu a merda. Salvo.

A cagona jamais foi descoberta. Mas hei-de descobrir quem amerdalhou a minha hora de almoço. De almoço só a hora, porque almoço nem vê-lo nem o quis ver.

link do post Eu e o meu Ego, às 23:37  ver comentários (1) comentar

 
Novembro 2008
D
S
T
Q
Q
S
S

1

2
3
4
5
6
7
8

9
11
14
15

17
18
19
22

24
25
26
27
28
29

30


subscrever feeds
blogs SAPO