Ginásios são uma experiência sociológica. Ou surreal, nalguns casos. Ou, ainda, extremamente engraçada. Por vezes, já nem sei com qual função lá vou. Talvez para rir. Talvez para a função primária que me levou a inscrever. Não sei. Mas no outro dia ri-me. E com gosto. E sozinho.
Estava eu entretido com os afazeres – leia-se os exercícios – quando entra uma personagem. Não uma qualquer. De personagens penso que todos sabem que são aos magotes nos ginásios. Acho mesmo que são fabricados às paletes e distribuídos depois. São já quase um acessório fundamental em qualquer ginásio que se preze. Atestam a qualidade do mesmo. Mas retomando. A personagem era A personagem. A melhor que já vi – neste ambiente, claro.
Nos seus 50 anos, com uma bela barriga, com uma camisola a que arrancou as mangas, bigode farfalhudo, cabelos encaracolados, meias – brancas – por cima das calças e fita na cabeça. O andar era gingão. Parecia que andava de pernas abertas. Talvez alguma doença. E peito inchado. Entra com um sorriso nos lábios e pelo caminho, até à máquina, decide meter-se com todas as dignas representantes do sexo feminino. Velhas, novas, ainda menores – acho – nada ficava sem um sorriso, um galanteio, uma palavra de conforto. Já na sua máquina, uma bicicleta estática, era vê-lo a distribuir graçolas.
Juro. Tentei a sério. Até porque estava sozinho apenas acompanhado pelo Ipod. Mas foi mais forte. Ao primeiro sorriso ainda tentei disfarçar. Mas a gargalhada arrastou-se cá para fora e as outras seguiram-na. De repente eu próprio também já era uma personagem. Ria-me sozinho no meio do ginásio. Espero que pelo menos algumas almas tenham pensado que me ria de algum podcast que estivesse a ouvir.
Eu sei. Não pensaram. Apenas gosto de pensar que sim.