Como fui ingénuo. Como poderiam ter as coisas corrido de outra forma. Mas lá está, esta análise apenas é possível com a devida distância do tempo.
Passado aquela fase em que todos os miúdos – pelo menos aqueles que calcorreavam a rua comigo – querem ser cowboys, bombeiros ou astronautas, eu achei que queria ser outra coisa.
- Pai, mãe, já sei o que quero ser quando for grande. Quero ser cantor!
- Meu filho, não tens jeito nenhum para cantar, além disso em Portugal não dá para viver.
Não desanimei.
- Pai, mãe, já sei o que quero ser quando for grande. Quero ser actor!
- Meu filho, em Portugal vais para o desemprego. Para não falar na tua tremenda falta de jeito.
Não há duas sem três.
- Pai, mãe já sei o que quero ser quando for grande. Quero ser advogado!
- Meu filho, que bom. Vais ser Dr. E vais-te sair lindamente.
Hoje, acho que preferia ter levado um par de estalos. Ou então não. Simplesmente que continuo a não ter jeito para aquilo que escolho. Já ficava contente.