I wish I were a Warhol silk screen hanging on the wall. Or little Joe or maybe Lou. I'd love to be them all. All New York's broken hearts and secrets would be mine. I'd put you on a movie reel, and that would be just fine. Ian Curtis
12.11.08
O texto que segue em baixo não é meu. É de um amigo. Concordo e subscrevo por baixo.

É tempo de acabar com as ilusões

Leio no jornal que a “associação cultural e artística Elucid’Arte” se encontra a promover um concurso de fotografia sob o tema “Avenida Luísa Todi – Patrimónios Material e Imaterial”, com o apoio da Setúbal Polis e da Câmara Municipal de Setúbal.

Fora o caso, já de si complicado, de se perceber o que se poderá considerar de património imaterial, e de que modo este se habilitará a ser fotografado, uma pergunta, dada a notícia, surgiu naturalmente na mente da senhora que, com simpatia, me serve o café pela hora de almoço: o que será suposto os candidatos do concurso fotografarem? Os buracos das obras ou os parques de estacionamento da zona dos bares? A pergunta é pertinente. E é pertinente porque, na sua “multiplicidade e transversalidade”, como dizem os senhores da Elucid’Arte, na Avenida Luísa Todi, pouco mais que isso resta para ver. E, por consequência, fotografar. O património a que se referem, meus amigos, já foi vandalizado sob a batuta do Programa Polis, num acto de pura intenção criminosa. E igualmente com o apoio da Câmara Municipal. A proposta desta “associação cultural e artística” não podia ser mais ridícula.

Mas, por falar em coisas ridículas, tomei também conhecimento que a Associação dos Comerciantes foi recebida, há alguns dias, no gabinete da Dra. Dores Meira. Finalidade? Reivindicar o fim das obras Polis na Avenida e perguntar que é feito dos locais de estacionamento da mesma. Porque, a dita Associação, deu-se agora conta que os lugares de estacionamento na zona mais próxima à baixa desapareceram, para nunca mais serem vistos. Caso que será problemático para a sobrevivência do próprio comércio. Estas conclusões sábias são, no entanto, pouco inovadoras. Era conhecido há meses que o estacionamento da zona iria desaparecer. Como será possível que estes senhores não se tenham apercebido antes do facto?

É necessário compreender uma coisa: a baixa setubalense está morta. Falta apenas declarar oficialmente o óbito e proceder ao digno velório da coisa. Óbvio que a Associação de comerciantes persiste em ignorar o facto, preferindo imaginar, num misto de pensamento feliz e de simples ilusão, que um vasto, mas simplório, conjunto de luzes natalícias servirá para ressuscitar o bicho (outra das reivindicações da Associação à Câmara Municipal). Não chega. Nem, tão pouco, uma dúzia de lugares de estacionamento chegará. Tais receitas poderão servir para manter a baixa no estado comatoso actual, mas devolver-lhe a saúde perdida, não. Como chegámos aqui?

Já o disse várias vezes. Setúbal, urbanisticamente, é montada em cima do joelho por criaturas analfabetas no seu ofício. E este programa Polis é apenas a consequência dramática da aplicação em grande escala (porque existe, ou existia, muito dinheiro para esbanjar) deste nível de actuação.

Estranhamente, sobre este assunto, o vereador Paulo Calado do PSD, num estilo muito pouco habitual, disse uma coisa que vale a pena reter: os comerciantes acordaram tarde para o problema. Verdade. A maioria, sim. E a Associação dos Comerciantes, parece, ainda nem sequer acordou para o que realmente se está a passar. Mas uma pequena minoria de comerciantes desde o início que entendeu a complexidade da tragédia, e cedo começou a exigir responsabilidades. O executivo camarário respondeu a essas vozes, como tem por hábito o fazer: fechando-se numa obstinação acéfala, ora ignorando, ora intimidando, quem não se deixa deslumbrar por pechisbeques e promessas baratas. Porque, se algum comerciante se queixa, é intriguista; se um qualquer cidadão demonstra desagrado, é porque não percebe a grandeza do que está a ser feito; se um humilde cronista bate as teclas em profundo e irremediável desacordo, é ignorante.

Para a Avenida Luísa Todi já é tarde. A completa destruição do espaço em pouco tempo estará completa. Agora resta apenas tirar as devidas lições do sucedido. É tempo de acabar com as ilusões.


Tiago Apolinário Baltazar

Jornal de Setúbal, 10/11/2008
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